12 novembro, 2005

PUTAS, PILAR E PAIXÃO

Pilar del Sol é uma personagem objeto. Objeto da paixão de Marcelo Coqueiro. Marcelo Coqueiro é o protagonista do romance Muito Além da Neblina, de Germano Silveira (cujo blog está entre os links ao lado). Delgadina é o objeto da paixão do velho sábio em Memória de Minhas Putas Tristes de Gabriel García Márquez. O escritor estreante e o consagrado ganhador do Nobel de Literatura falam com verdade sobre os desejos do coração do homem pela mulher idealizada.

Pilar del Sol está entre as mulheres que Marcelo Coqueiro rememora, nenhuma delas puta. Para ele a atração por Pilar é um episódio da sua jornada amorosa, mas não um lance qualquer, visto que é inserida no exato momento em que o herói indaga se chamais amará verdadeiramente. Delgadina é o presente de um homem de 90 anos que vai encontrar na memória as putas do seu passado. A jovem de 14 anos é o elo que une as duas pontas da corrente. O que deveria ser a última extravagância do rei dos bordéis acaba por levá-lo à paixão pura, terna, generosa, idealizada, da qual fugiu a vida toda.

No caso de Marcelo e Pilar não interessa a aparência física ou o desprezo dela, o que alimenta a paixão é o ideal, não o real. Esse ideal é ilustrado de maneira belíssima por Gabriel García Márquez, o que não revelo para não tirar o prazer dos que ainda não leram. Para o velho homem sábio não interessa a brutal diferença de idade, por que se todos interpretam a velhice pela decrepitude física, poucas pessoas sabem que o coração de um homem, mesmo depois de uma longa fuga de quase noventa anos, sempre está pronto para amar.

05 novembro, 2005

OS MÉRITOS DO PRESIDENTE

Qualquer democracia deve se orgulhar de produzir um mandatário supremo egresso das camadas populares. Se esse líder for da região mais pobre da nação, maior ainda o motivo da exultação. Mas nesse advento está implícita a questão do mérito. O que valoriza essa ascensão é o fato de que essa sociedade proporcionou os subsídios para tanto. Ao agente cabe o mérito pessoal de ascender segundo as condições dadas. Assim acontecendo, podemos dar a essa democracia o prêmio que lhe cabe em forma de reconhecimento. Mas de que serviria ir buscar um dos milhares de brasileiros miseráveis e instalá-lo no Palácio do Planalto? De fato, esse cidadão teria vindo das camadas inferiores da sociedade. De fato ele ocuparia o cargo de Presidente do Brasil. Entretanto, não passaria de uma farsa, uma falsificação. Faltariam os méritos. O da democracia e o do sujeito. Existe ainda uma situação intermediária, onde o cidadão se apoderaria do mérito que caberia à sociedade. Se apoderaria de forma legítima, pois nessa hipótese o esteio necessário para sua ascensão não adviria do aparato estatal mas do esforço próprio para ir buscar o que deveria ter sido, mas não foi, colocado ao seu alcance. Esse deveria e poderia ter sido o mérito do Presidente Lula.

Para que se possa outorgar mérito a qualquer campeão da ascensão social é necessário apenas que esse mesmo mérito seja aferido. Na verdade o mérito é acumulado ao longo dos anos, onde essa pessoa buscou aprimorar-se para galgar patamares mais altos. O valor de subir na vida reside no fato de acumular as condições necessárias para tanto. Quantos brasileiros não saíram de periferias insalubres e tornaram-se médicos, jornalistas, engenheiros, etc.? Outros tantos, certamente em número bem menor, tornaram-se donos de hospitais, de jornais e de construtoras. No primeiro caso é pressuposto uma formação superior, e no segundo necessita-se de espírito empreendedor. Pessoas sem qualquer formação acadêmica também logram êxito. Se alguém sem diploma de jornalista administra corretamente um jornal é por que adquiriu os conhecimentos necessários fora dos muros da escola, foi um autodidata ou aprendeu com a prática, ou ainda segundo ambos os métodos. Mas não se concebe que um jornal seja gerido por quem não saiba o que está fazendo. As condições devem estar lá, não importa de que forma foram adquiridas, devem estar lá. E o mérito reside exatamente na empreitada para reunir o cabedal necessário. Se um servente passou a mestre de obras pressupõe-se que ele sabe mais do que mexer a massa. Se um contínuo chega a gerenciar um comércio pressupõe-se que consiga fazer mais do que meras entregas ou pagamento de contas. Se um advogado assume a magistratura pressupõe-se que as condições necessárias foram aferidas pela realização de provas de conhecimento e de títulos. Quanto mais alto o posto que se almeje maior a preparação, maior o mérito. Para ser presidente de um país é necessária uma preparação em muito superior a de um magistrado (ao menos os das instâncias iniciais). Essa deveria e poderia ter sido a preparação do Presidente Lula.

Lula tem seus méritos. Primeiro tornou-se metalúrgico, depois líder sindical de forte atuação durante o regime militar, embora esse já seguisse o caminho do fim com as perseguições abrandadas. Fundou um partido político. Participou das manifestações pelas eleições diretas. Foi deputado federal constituinte. Por último virou candidato. Desde de 1989 Lula virou meramente candidato. De 1989 a 2002, ou seja, durante exatos 13 anos (curiosamente o número do PT) dedicou-se a ser candidato a Presidente. É fácil então aferir os méritos de Lula. Eles estão concentrados até o ano da sua primeira candidatura. O que Lula estudou? Onde obteve os conhecimentos necessários para exercer a direção do Brasil? Onde demonstrou que possui esses conhecimentos? Lula não está preparado para ser presidente do Brasil. Isso não é preconceito. Tenho um diploma universitário e não me sinto preparado para exercer esse cargo. Se tivesse além da formação superior a experiência de Lula, também não me sentiria. Trata-se de um fato: Lula não tem preparo, não obteve o mérito suficiente para o exercício do cargo que ocupa. Ele não precisava ser um erudito, muitos grandes líderes não foram, mas é preciso mostrar capacidade de governar, experimentação, gênio, perspicácia. Se para Platão o governante deve ser um filósofo, ou a um filósofo deve ser entregue a direção da cidade, só nos cabe lamentar que o nosso Presidente esteja tão distante desse ideal. Assim, nossa infante democracia ainda não pode vangloriar-se de ter proporcionado a ascensão de um do povo ao cargo máximo da Nação. Ela não criou as condições para tanto e aquele que ocupa o cargo não possui mérito suficiente. Tudo não passa, infelizmente, de uma grande farsa!