06 junho, 2010

GALALAUS AZUIS E FILMES PORNÔ

A tecnologia atual encanta os olhos. Não só os olhos, é verdade, mas a visão é sem dúvida a “vítima” dos maiores deslumbres. Eu me lembro bem quando tive a nítida impressão (e como era nítida!) de ter avistado Will Smith no interior de uma loja de eletrônicos. Demorou um segundo para eu entender que todo aquele realismo não passava de uma cena de Homens de Preto, sendo exibido numa televisão de plasma (realmente não era LCD, e as de LED ainda não tinham sido lançadas). Então, substituí o impulso de entrar e tentar pedir um autógrafo pela curiosidade acerca do equipamento que gerava uma imagem tão nítida, tal límpida, tão real, tão tão. Explicações dadas pelo vendedor, saí da loja cogitando em quanto tempo toda aquela maravilhosa tecnologia HD estaria ao alcance de um integrante da classe média como eu.

Essa é uma face do deleite visual que a tecnologia nos proporciona, a outra são os efeitos visuais que os hiper-super-mega-computadores da indústria do cinema produzem. É sensacional. Não fossem essas máquinas de produzir realidade, jamais poderíamos ter visto com tamanho realismo o Homem-Aranha dando uma de Tarzan urbano, indo e vindo, pendurado na sua teia, entre os espigões de Nova Iorque. Como realizar tantos filmes de heróis dos quadrinhos com tamanha qualidade sem esses equipamentos? Maravilha, podemos assistir essas dádivas que o cinema produz nas nossas salas de estar, e em alta definição. Quem poderia ser contra isso? Eu não sou.

Tudo estaria perfeito não fosse o uso indiscriminado do que apelidei de “receita de filme pornô”. Para fazer um filme pornô basta ter casais fazendo sexo explícito, o resto fica por conta de uma mínima técnica cinematográfica. Entre uma cena de transa e outra insinua-se um roteiro que não passa de uma desculpa, uma lenga-lenga que depois do advento do vídeo-cassete é assistida muda e em alta velocidade: tudo o que interessa ao tarado que alugou o filme são penetrações, gemidos e olhos revirando. Infelizmente, parece que a indústria do cinema acha que tudo que interessa ao público de hoje são imagens impactantes, seja pela beleza, seja pela grandiosidade. Avatar e 2012 são claros exemplos disso. Para entender o que eu estou dizendo, basta suprimir os índios interplanetários azuis e todo o maravilhoso mundo visual que os cercam e olhar para o que sobra de Avatar. Depois que fiz isso descobri que o tema já fora abordado com muito mais qualidade e propriedade em Dança com Lobos. Já 2012 nada mais é do que o velho e péssimo cinema catástrofe, onde os personagens principais se cansam de escapar fedendo (que é sempre melhor que morrer cheirando, tenho que admitir), em meio a “pancadas visuais” aterrorizantes. Só resta fazer uma coisa em relação a tais filmes, onde a razão de ser é a indiscutível beleza de galalaus azuis pisando em mato que se acende, ou a impactante visão de uma onda tão gigantesca que joga um porta-aviões sobre a Casa Branca: usar a tecla de avanço rápido para saltar a lenga-lenga e satisfazer essa nova espécie de tara visual.

Um comentário:

Germano Silveira disse...

Gostei, galalau branquelo!...rsrsrs.....